DRA. RAQUEL MANZINI CONCEDEU ENTREVISTA AO OBSERVATÓRIO ESCOLAR PARA FALAR SOBRE BULLYING
- Raquel Manzini
- Dec 17, 2022
- 3 min read
Casusas, consequências e como identificar d prevenir o problema

ENTREVISTA/ RAQUEL MANZINI, DOUTORA EM PSICOLOGIA
Como entender o problema da violência dentro das escolas?
Os casos de violência na escola não são provocados por uma ou outra criança, mas por um “currículo oculto” — aquilo que a escola programa como disciplinar, como uma metodologia de ensino, mas que não é colocado explicitamente para os pais e alunos. Nele está implícito a forma como a instituição agirá em uma situação-problema: de forma violenta, opressora ou aberta ao diálogo. Há escolas que, diante de uma situação de conflito, culpabilizam o aluno. Quando investigam o caso, elas buscam entender o que o aluno teria feito para provocar a agressão, em vez de analisar o contexto escolar como um todo. Essa postura defensiva mostra o despreparo da equipe escolar para lidar com desafios e diferenças. E a consequência direta dessa cultura institucional é devastador: a vítima perde a noção de que tem o direito de se defender; o direito de não ser agredida; e o direito de buscar ajuda quando isso acontece.
Por que as crianças e adolescentes nem sempre denunciam as violências que sofrem em ambiente escolar?
Muitas vezes a criança não conta aos pais o que está acontecendo porque aquela violência é vista como algo normal e natural no contexto escolar. Outras vezes, ele se sente equivocadamente culpado pela agressão e, por isso, prefere se calar. Um terceiro fator é a disseminação, entre os alunos, da ideia de que quem denuncia esses casos é fraco, filhinho da mamãe ou dedo-duro. E para não se expor, a criança passa a esconder o que está acontecendo. Para complicar a situação, quando o aluno não confia na equipe educacional, ele tem medo de denunciar. Existe o receio de que a coordenação diga aos pais que ele está inventando, é problemático ou anda com más companhias. Por isso, é muito importante dar aos filhos a confiança de que eles serão acolhidos sempre que contarem sobre os problemas que estão enfrentando na escola.
Por que as crianças se sentem culpadas quando são agredidas por um adulto?
Elas se sentem culpadas porque pensam que estão sendo agredidas, verbal ou fisicamente, por algo que fizeram ou deixaram de fazer. Uma criança extremamente ativa e questionadora, por exemplo, quando sofre uma agressão verbal de um professor, não pensa que o adulto está errado. Ela acha que o fato de ser como ela é justifica a agressão e esse pensamento passa a acompanhá-la para o resto da vida, deixando-a pouco empoderada para colocar limites nas outras pessoas durante toda a vida adulta.
Como identificar se o meu filho está sendo vítima de violência na escola?
Essas crianças e adolescentes vão demonstrar indiretamente que algo não vai bem. Começarão a ter dor de cabeça na hora de ir para escola, terão ânsia de vômito, crises de choro, problemas no estômago. Também é comum terem insônia e dificuldade de falar sobre a escola. Outro sinal comum: a criança se torna isolada, muda de comportamento e começa a procurar no mundo virtual uma válvula de escape. Sabe aquela criança que só tem amigos virtuais? Talvez seja porque na escola algo não está indo bem.
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SOBRE O OBSERVATÓRIO
O Observatório Escolar é um projeto jornalístico que usa dados públicos ou veiculados na imprensa para criar o primeiro banco de dados brasileiro sobre a violência praticada por escolas ou educadores contra alunos da educação básica. Nosso principal objetivo é combater esses crimes, tirando-os da invisibilidade para criar um ambiente favorável à construção de políticas públicas sobre o assunto.
Inicialmente, o Observatório tentou obter dados sobre a violência praticada por escolas e profissionais da educação, contra crianças e adolescentes, via Lei de Acesso à Informação (LAI). Como a demanda não foi atendida optou-se por compilar todas as denúncias de violência praticada por escolas e educadores contra os estudantes, em ambiente escolar, veiculadas na imprensa a partir de 1o de janeiro de 2017.
Vale destacar: os números coletados pelo Observatório não representam a totalidade de casos de maus tratos, assédio sexual, estupro de vulnerável e outros crimes cometidos com profissionais da educação e escolas contra as nossas crianças e adolescentes. Afinal, somente uma parte do que acontece na sociedade chega às páginas dos jornais ou são divulgadas na imprensa. Isso não invalida nosso banco de dados — primeiro do Brasil a jogar luz sobre o problema e, principalmente, a tentar encontrar maneiras de proteger os estudantes contra esse tipo de violência.
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